sábado, 21 de julho de 2007

Conhecendo Julião

Josué desceu correndo as estreitas passagens que levavam de sua casa até a sede da Associação de moradores do bairro, e ao sair de casa já ia gritando por Da. Cota, que naquele lugar servia p`ra ajudar em todas as necessidades. Era uma senhora tranquila que cuidava de si e dos seus primeiro, mas ainda assim era bastante útil.

Aliás, Da. Cota, porque era a responsável pelas cotas dos benefícios que ali eram distribuídos.

Josué gritava, minha mãe tá chorando de dor, acho que a criança já quer nascer. Da. Cota, foi largando papéis pelo chão e foi até a casa de Da. Loratina. Algum tempo depois fiquei sabendo que Loratina, representa as iniciais dos nomes de seus avós, Lourenço, Raquel, Tibério e Nalva.

Da. Loratina chorava muito, e dizia tem que ser menina, o Santana disse que menino não quer mais não. Na ambulância, era a mesma história, não pode ser menino, e não é que ali mesmo o menino nasceu, nem esperou chegar no Hospital.

Era uma criança saudável, forte e corada, mas nada consolava Loratina, o Santana não queria.

Ele era segurança de uma empresa de transporte de valores, e não queria saber de notícias de menino. O pessoal da ambulância insistia, a criança precisa ter nome, para menino não tinha essa possibilidade.

Depois de alguma discussão ficou mesmo Julião.

E Julião foi crescendo ali meio abondonado, até quando nasceu Estevão, seu sexto irmão. Isso foi a gota dàgua, e Julião e Estevão foram levados por Da. Cota para serem criados por uma família da comunidade que não tinha filhos, mas de parcos recursos.
Julião cuidava do irmão, e com sete anos já trabalhava, engraxando sapatos, vendendo das balas de açucar que Da. Loratina fazia para vender ali na vizinhança e na escola do bairro. Aliás, parece que Da. Loratina mas comia que vendia balas tamanho já estava seu corpo. Sim, na comunidade a criançada chamava ela de Da. Tina.

Com o tempo Julião foi se desligando da comunidade, ia prà cidade trabalhar levava seu irmão, até que sua família arrumada mudou-se para um lugar distante e ele não teve mais notícias de seus pais verdadeiros. Ia crescendo, estudando com dificuldades e trabalhando prà si e para o irmão.

Conseguiu com muito esforço trabalhos melhores e progredir na vida. Já trabalhava como representante comercial, tinha sua casa, simples mas confortável e Estevão sempre com ele.

Porte atlético, boa praça, não demorou arrumar uma namorada, Elaine, com uem veio se casar. Moça bonita, boa dona de casa, companheira que tinha um grande carinho por Julião.

Estavam felizes, mas com menos de dois anos de casamento, um dia Julião acordou e encontrou a mulher morta a lado na cama. Morte súbita, Elaine tinha um problema congênito no coração.

Foi uma tristeza só, muita dor prà acrescentar à sua vida sofrida.

Mas o tempo foi cuidando de cicatrizar as feridas e Julião ia se ajeitando na vida, até conhecer Magaly, uma nova paixão prà esquecer de vez a Elaine. Magaly era muito simples, trabalhava de diarista, e um dia foi prestar serviços no prédio de Julião, e de um encontro casual no elevador surgir um grande amor. Magaly jurava amor eterno, era a oportunidade de melhorar de vida, mudar prà casa boa e deixar trabalhos pesados.

Antes de casar já morava com Julião, que cuidava prà oficializar a relação.
Magaly foi trabalhar com ele no escritório, atendia telefonemas, clientes, aprendeu a cuidar da papelada e administrava o escritório quando Julião não estava.

Foi sendo construída uma relação boa e Julião queria até ter filhos, não esquecia os dramas da infância e queria cuidar bem daqueles que Deus lhe confiasse.
Julião, pelas necessidades do serviço viajava muito, e Magaly ficava no escritório e em casa com Estevão.

A vida seguia seu curso, até com certa tranquilidade e felicidades. Já faziam uns oito meses do casamento legal, e os negócios do Julião melhoravam bastante o que o obrigava a viajar cada vez mais.

Não gostava muito de deixar a mulher, mas pela menos ela tinha a companhia do irmão, que ajudava nos negócios e cuidava da cunhada.

Numa dessas viajens, quando da volta Julião surpreendeu na cama a mulher e o irmão, foi de dar dó, uma traição deste tamanho é mesmo difícil de pensar. Os dois mandou embora, e lá se foi o sonho dos filhos e também dificuldades para reordenar o trabalho, a mulher e o irmão já dominavam muita coisa por lá.

Mas Julião não é de desistir, aguentou o baque, se reestruturou, mas agora não queria mais saber de mulher, era muito sofrimento, mas não podia ficar de
todo sem, então o jeito era sair com mulheres de programa, e ele foi se acostumando com a nova vida.

Mas, nestas andanças conheceu Rithinha, morena fogosa, boa de cama, compreensiva, era companhia agradável, fazia carinho, escutava as lamentações de Julião e de mansinho foi conquistando o abalado coração do rapaz. Os encontros passaram a ser mais frequentes, e Julião tava gostando muito da companhia da danada, não diria que era o amor que sentia pela Magaly ou pela Elaine, mas tinha algo de profundo, e apesar das circunstâncias ele respeitava muito aquela moça, uns quinze anos mais nova que ele.

E ela foi com muito jeito se acomodando dentro da vida dele. Ressabiado Julião estava, ah lá isto tava, mas também pensava em dar nova chance prà vida, não esquecia o desejo de ter filhos, e resolveu levar Rithinha prà viver com ele, e as coisas até que foram muito bem, de paz, tranquilidade, amores, solidariedade.

Julião não se interessava muito pelo passado da amada, prà ele não queria dizer muito, então convivia bem com a situação. Mas e os filhos, para tê-los Julião entendia que deveria estar casado prà dar estabilidade para as crianças.

Então, propôs o casamento e Rithinha ficou entusismada, tinha que providenciar documentos, que nem isso ela tinha.

Quando Rithinha entregou-lhe os documentos, tava lá, Maria das Graças Santana, filha de Everaldo Carlos Santana e Loratina da Conceição Santana. Julião não podia acreditar e o desespero neste momento bateu forte demais, não conseguia nem falar e Rithinha sem entender o que estava acontecendo.

Pra Julião era o fim do mundo, como podia acontecer até isso, o choque foi mesmo muito grande que ele foi parar num hospital desequilibrado e descompensado. Custou recobrar a lucidez, não queria pensar, preferia fugir deste mundo, chegou a implorar pela morte, mas ainda não era hora, e ele aos poucos foi retomando sua vida, Rithinha morava com ele, mas agora como a irmã querida.

Dos filhos desistiu de vez, casar nunca mais.

Mas sem mulher não pode ficar não é? E agora Julião se resguarda dos problemas, tá sempre disponível para atender as mulheres quando seus maridos viajam, coisa rápida, sem apego, sem tempo prà gostar, e sem chance de morar junto.

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